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domingo, 15 de janeiro de 2023

Uma História Indiana


Um certo dia, um amigo meu

abriu a gaveta da mesa de

cabeceira da sua esposa e

apanhou um pacote

embrulhado em papel de arroz.


“Este - disse o meu amigo -

não é um pacote qualquer, é

uma peça íntima, uma lingerie finíssima”.


Abriu o pacote,

jogou fora o papel,

pegou na peça, e

acariciou a seda macia e a renda.


“Ela comprou esta lingerie a

primeira vez que estivemos

em New Yorque...,

uns 8 ou 9 anos atrás.

Nunca a usou.”


“Estava esperando o

momento certo,

a ocasião especial para poder usá-la.

Bom, acho que a hora chegou.”


Aproximou-se da cama e

colocou a lingerie perto de

outros objetos que levaria para o cemitério.


A sua esposa havia morrido de repente.


O meu amigo olhou para mime disse:

“Nunca guardes nada à

espera de uma ocasião especial,

cada dia que vivemos,

é uma ocasião especial”.


Ainda estou pensando nas

palavras que ele me disse e

como mudaram a minha vida.


Agora leio mais, e dedico menos

tempo à limpeza da casa.

Sento-me na varanda e admiro a

paisagem, sem reparar se o jardim

tem ou não ervas daninhas.


Passo mais tempo em companhia

da minha família

e dos meus amigos,

e bem menos tempo trabalhando para os outros.


Dei-me conta que a vida é um

conjunto de experiências para serem

apreciadas e não sobrevividas.


Agora já não guardo quase nada.

Uso os copos de cristal todos os dias.

Visto roupas novas para ir fazer

compras no supermercado, se

estiver com vontade de vesti-las.


Não guardo o melhor frasco de

perfume para as festas especiais,

mas uso quando quero sentir a sua fragrância.


As frases “um dia...” e “um dia

destes...”, estão desaparecendo do

meu vocabulário, se vale a pena ver

e ouvir é agora.


Não sei o que a esposa do meu

amigo teria feito, se soubesse que

não haveria amanhã,

o mesmo “amanhã” que todos nós

levamos tão pouco a sério.


Se ela soubesse, talvez poderia ter

falado com todos os seus familiares e

amigos mais próximos.


Ou, talvez, poderia ter chamado os

velhos amigos para se desculpar,

para fazer as pazes pelos mal

entendidos do passado


Gosto de pensar que, ela poderia ter

ido degustar o seu prato preferido

naquele restaurante chinês que tanto gostava.


São estas pequenas coisas da vida

não cumpridas que me chateariam se

soubesse que tenho as horas contadas.


Chatear-me-ia pensar que deixei de

abraçar os bons amigos que

“um dia destes” reencontraria,


Chatear-me-ia pensar que não

escrevi as cartas que queria porque

a intenção de escrevê-las era “um dias destes...”,


Chatear-me-ia, e deixar-me-ia ainda

mais triste, saber que deixei de dizer

aos meus filhos e irmãos, com

suficiente frequência, o quanto os amo.


Agora procuro não retardar,

esquecer, ou conservar,

algo mais que poderia acrescentar

sorrisos de felicidade e alegria à minha vida.


Cada dia que passa, digo para mim

mesmo, que este é um dia muito especial.

Cada dia, cada hora, cada minuto
que passa... é especial.